sexta-feira, julho 20, 2007

MORRE AOS 79 ANOS SENADOR ACM


Senador ACM e o Presidente Lula
Foto: Reuters

Uma das principais lideranças da política nacional, o senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA) morreu nesta sexta (20), aos 79 anos, no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (Incor), em São Paulo.
Segundo nota divulgada pela assessoria do Incor, ACM morreu às 11h40 desta sexta "em decorrência de falência de múltiplos órgãos secundária à insuficiência cardíaca". De acordo com a assessoria do senador, o velório será no Palácio da Aclamação e o enterro, no cemitário Campo Santo, ambos em Salvador (BA).
Segundo a assessoria, o corpo deve deixar o hospital entre 17h e 18h desta sexta e embarcar na Base Aérea de Guarulhos (SP), com destino a Salvador, em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), cedido pela Presidência da República.

CONFIRA A BIOGRAFIA POLÍTICA DO SENADOR ACM

Amado e odiado, Antonio Carlos Magalhães sempre esteve próximo do poder.
Ele começou carreira política em 1954, quando se elegeu deputado.

Um dos caciques da política nacional, o senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA) gostava dizer: “Só duas siglas pegaram neste país: JK e ACM”, em referência às letras do seu nome e às do presidente Juscelino Kubitschek (1902-76).
De fato, Antonio Carlos Magalhães foi designado mais pela sigla que pelo próprio nome durante toda a carreira política, que começou em 1954, quando ele se elegeu deputado estadual na Bahia pela antiga União Democrática Nacional (UDN).

Quatro anos depois, tornou-se deputado federal, sendo reeleito para mais dois mandatos consecutivos, em 1962 e 1966. Em 1967, durante o regime militar, foi nomeado prefeito da capital baiana, Salvador. Já em 1970, foi indicado pela primeira vez para o governo da Bahia.
Na Bahia, o “carlismo” se consolidou nas décadas seguintes como maior força política do estado. ACM e seus aliados dominaram o governo estadual por 16 anos. A hegemonia “carlista” só foi quebrada em 2006, quando Jaques Wagner (PT) foi eleito governador.

Apesar da derrota de seu aliado Paulo Souto (DEM) para Jaques Wagner, ACM partiu para o “ataque”. “Daqui a pouco, vossas excelências vão ver o desastre do governo baiano e a volta triunfal do carlismo", disse o senador após o fracasso.
O cacique baiano comandou o estado por três vezes. Ele governou a Bahia também entre 1979 e 1983, quando foi eleito por meio de um colégio eleitoral, e de 1991 a 1994, após ter sido eleito no primeiro turno no pleito de 1990.
Amado e odiado, o senador baiano sempre esteve próximo do poder federal, apesar das diferenças ideológicas entre os sucessivos governos. Foi aliado do regime militar pós-1964 e do tucano de Fernando Henrique Cardoso. Apoiou Lula na eleição de 2002.
Em 1994, ACM foi eleito para o Senado Federal. Ele presidiu a Casa entre 1997 a 2001, quando renunciou ao mandato devido às investigações sobre a violação do painel eletrônico do Senado. No entanto, em 2002, conseguiu novo mandato para o Senado.
Em 1984, durante a campanha das "Diretas Já" pela redemocratização do país, ACM se opôs à candidatura de Paulo Maluf (PDS) à Presidência e deixou a legenda para fundar o Partido da Frente Liberal (PFL), atual Democratas (DEM).

Na época, o político baiano apoiou a candidatura de Tancredo Neves, que morreu antes de assumir a Presidência da República. Com a posse do vice José Sarney, ACM foi convidado em 1985 para ser ministro das Comunicações, cargo que exerceu até 1990.

No período em que foi ministro, ACM enfrentou o primeiro drama pessoal. Em 1986, a filha mais nova, Ana Lúcia Magalhães, então com 28 anos, suicidou-se. Antes de cometer o suicídio, ela chegou a ligar para o pai para dizer que não estava bem e que iria se matar.
Ele sofreu outra tragédia pessoal em abril de 1998, quando o filho Luís Eduardo Maron Magalhães morreu de infarto. Ex-presidente da Câmara dos Deputados, Luís Eduardo era considerado seu sucessor político e provável candidato do PFL à Presidência.
Nos últimos anos de sua vida política, ACM se envolveu em várias polêmicas. Após apoiar a eleição de Fernando Henrique Cardoso em 1994 e 1998, ACM rompeu com FHC em 2001 e assinou requerimento para a criação de uma CPI para investigar o governo tucano. A crise começou em 2000 após a disputa entre ACM e o então líder do PMDB no Senado, Jader Barbalho. Os dois trocaram seguidas acusações, já que o senador baiano era contrário à eleição de Jader para a presidência do Senado.
ACM chegou a enviar carta a FHC sobre denúncias envolvendo Jader Barbalho. Apesar de sua oposição, o peemedebista foi eleito, e o senador baiano atacou o governo federal, dizendo que ele acobertava a corrupção. Em resposta, FHC demitiu os dois ministros aliados de ACM.
"É preciso que as lealdades políticas sejam claras para não prejudicar a imagem e a credibilidade da ação administrativa do Governo", disse FHC na época, após demitir Waldeck Ornélas (Previdência) e Rodolpho Tourinho (Minas e Energia).

A crise culminou com a própria renúncia do senador em maio de 2001, já que ACM disse que o sigilo do painel do Senado havia sido quebrado na votação da cassação de Luiz Estevão. Apesar de desmentir a violação do painel, ele não resistiu à pressão e renunciou ao cargo.

O racha com o PSDB fez com que ACM declarasse seu voto ao petista Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno da eleição presidencial de 2002. “Além de votar, vou pedir para meus correligionários apoiarem o Lula", disse ele na época.
Devido à afinidade com o governo Lula, parlamentares do PFL chegaram a pedir em 2004 a abertura de processo para sua expulsão do partido. ACM foi acusado de traição por ter ajudado a promover uma reunião entre senadores da oposição com o presidente. Pouco tempo depois, o senador ACM rompeu com Lula.
Na eleição de 2006, o PT foi o principal adversário do PFL na disputa pelo governo da Bahia e, durante a campanha eleitoral, ACM e Lula trocaram farpas, com ofensas de ambos os lados.
A reaproximação entre os dois aconteceu em abril de 2007, quando ACM se encontrou com Lula no Palácio do Planalto. Na ocasião, o senador afirmou que o encontro tinha sido "amigável". "Parecia que eu só fazia elogios a ele, e ele a mim", contou.
Fonte: André Luís Nery G1, em São Paulo
http://g1.globo.com/Noticias/Politica/

Dossiê Painel do Senado

No dia 28 de junho de 2000, o Senado brasileiro viveu um momento inédito em sua história. Pela primeira vez foi cassado, em votação secreta, o mandato de um de seus membros, o do senador Luiz Estevão de Oliveira Neto, eleito pelo PMDB do Distrito Federal.
O presidente da Casa era o senador Antonio Carlos Peixoto de Magalhães (PFL-BA), que por seu perfil como homem público e pelos muitos anos sempre em evidência no cenário político do País, merece aqui um espaço à parte. Político polêmico, por muitos considerado mais influente que o próprio presidente da República, em uma de suas célebres frases disse que "só duas siglas pegaram neste País, JK e ACM". Vice-rei da Bahia para seus aliados, ACM também era conhecido como Toninho Malvadeza, pela maneira como tratava seus adversários políticos e todos aqueles que contrariassem seus interesses. Sua carreira política teve início em 1934, quando foi deputado constituinte pelo PSD. ACM era vinculado aos coronéis do sertão e às elites do recôncavo baiano. Apoiou o golpe militar de 1964 e por duas vezes (1970 e 1979) foi nomeado governador da Bahia, quando consolida o ''carlismo" no Estado.
Depois da eleição indireta de Tancredo Neves para a Presidência da República em 1985, Antonio Carlos Magalhães foi indicado para o Ministério das Comunicações, que se transformaria no seu projeto mais ambicioso. Transformado em Ministro poderoso pelo uso político que fez da pasta, ajudou a aprovar a prorrogação do mandato presidencial de José Sarney para cinco anos, distribuindo concessões de emissoras de TV e, principalmente, de rádio para parlamentares de todas as regiões do País. Acumulando informações, sempre respaldado por um forte aparato de comunicação, o senador tornou-se um dos políticos mais influentes do País. Depois de quase 50 anos de vida pública, a sigla ACM transformara-se em sinônimo de poder. "Gosto do poder. Quando terminei todos os meus mandatos, sempre lamentei que não durassem mais. O poder não é um sacrifício, mas um prêmio."
Em 2000, o senador José Roberto Arruda (PSDB-DF) era o líder do governo no Senado e Regina Célia Peres Borges, a diretora do Centro de Informática e Processamento de Dados do Senado Federal, o Prodasen. No mês de junho, uma ordem foi dada e obedecida: segundo laudo da Unicamp (Universidade de Campinas), o sistema de votação eletrônico do painel do Senado fora alterado no dia da cassação de Luiz Estevão para possibilitar a identificação dos votos de cada senador.
No dia 19 de fevereiro de 2001, ACM e seu assessor de imprensa, Fernando César Mesquita, revelaram a três procuradores da República a existência de uma lista com os votos de cada senador naquela sessão. Com a divulgação pela imprensa de trechos da conversa, o presidente da Casa, Jader Barbalho (PMDB-PA), desafeto político de ACM, determinou a instalação de uma sindicância para apurar a possibilidade de violação do painel do Senado.
Começava ali uma crise sem precedentes, que culminou com a renúncia dos senadores envolvidos em maio de 2001. A ex-diretora do Prodasen foi afastada de suas funções e responde a inquérito administrativo.

TEMPERAMENTO EXPLOSIVO LEVOU ACM À DERROTA

"O político tem de estar sempre em evidência. Aquele que não for afirmativo e polêmico nunca terá liderança. Para um político, não há nada pior do que ser morno" (1978)
BRASÍLIA. Apesar das mágoas, de algumas traições e mesmo injustiças de que possa ter sido vítima, o principal responsável pela maior derrota política de Antonio Carlos Magalhães em seus 47 anos de vida pública foi ele próprio. Dono de um temperamento explosivo, impulsivo e passional, rompeu com o governo e acabou tendo de empossar seu inimigo figadal Jader Barbalho (PMDB-PA) na presidência do Senado. Do auge à derrocada final, foram 15 meses de uma guerra que lhe custou o mandato.
- O intenso sofrimento dos últimos dias me deu duras lições. Uma delas é que não se pode ser escravo do ódio reconhece, tardiamente.
A chamada era Antonio Carlos começou a ruir em fevereiro de 2000. Favorável à cassação de Luiz Estevão (PMDB-DF) no fim da CPI do Judiciário - que patrocinou - teve seu primeiro choque com Jader, então líder do PMDB.
Bate-boca foi o maior já visto no Senado
Não demorou para que Antonio Carlos e Jader voltassem a se enfrentar. Em 5 de abril de 2000, os dois tiveram o maior bate-boca já vista no Senado. O motivo foi o aumento do salário-mínimo. Jader se irritou com a insistência do até então aliado do governo em defender o valor de R$ 180. Os colegas viram, estarrecidos, uma troca de ofensas durante quase cinco horas.
- Vossa Excelência é ladrão, mau-caráter e corrupto - atacou Antonio Carlos.
- O senhor fique caladinho aí, que não lhe concedi aparte! Voltarei à tribuna quantas vezes o presidente Antonio Carlos desejar para ajudar o jornalista Fernando Moraes a escrever sua biografia, vinculada à corrupção e à violência neste país - rebateu Jader.
Esse embate rendeu aos dois uma advertência pública do Conselho de Ética, o mesmo que há duas semanas aprovou o relatório de Saturnino Braga (PSB-RJ) a favor da abertura do processo de cassação de Antonio Carlos e de José Roberto Arruda. O bate-boca prosseguiu até bem pouco tempo e por pouco não viabilizou a CPI da Corrupção.
Em novembro de 2000, Antonio Carlos foi surpreendido com o escândalo Rubens Gallerani, assessor que o acompanhou por 16 anos como representante do governo da Bahia em Brasília. Denunciado pela ex-mulher Mara Lúcia, descobriu-se que Gallerani juntara uma fortuna de R$ 3 milhões, incompatível com o salário de R$ 2.909 por mês. Antonio Carlos reagiu, disse estar surpreso e providenciou a imediata demissão do assessor, mas saiu arranhado.
Mas o maior golpe ainda estava por vir. Quatro dias após dar posse a Jader na presidência do Senado, a ânsia de vingança o levou à Procuradoria da República no Distrito Federal. Atrás de documentos e de uma gravação que comprometeriam Jader e interessado em dar o troco a Fernando Henrique, que apoiara discretamente a candidatura de seu inimigo, apresentou uma série de denúncias aos procuradores Luiz Francisco Souza, Guilherme Scheib e Eliana Torelly. Só não contava que a conversa estivesse sendo gravada e depois chegasse à imprensa.
Diante dos procuradores, insinuou que, se o Ministério Público quebrasse o sigilo bancário do ex-secretário-geral da Presidência Eduardo Jorge chegaria facilmente ao presidente da República. De quebra, contou seu pecado maior: que tivera acesso à lista da votação secreta que cassara Estevão e que Heloísa Helena (PT-AL) havia votado contra. De uma só vez uniu governo e oposição contra si.
- Hoje tenho consciência de que não tinha nada que ir conversar com aqueles procuradores - diz.

Ministros sofreram revide do governo

Fernando Henrique demitiu os dois ministros que Antonio Carlos indicara: Waldeck Ornelas, da Previdência, e Rodolpho Tourinho, das Minas e Energia. A oposição pediu investigação sobre a violação do painel. Após muitos desmentidos, veio a confirmação. Interessados em garantir a cassação de Estevão, Antonio Carlos e Arruda teriam encomendado à então diretora do Prodasen, Regina Célia Borges, cópia da lista de votação.
Daí em diante, Antonio Carlos, que sempre esteve na ofensiva, foi obrigado a recuar para se defender. Teve de depor e até ser acareado com Arruda e a ex-diretora do Prodasen. Resistiu enquanto pôde, mas não contava com a reação tão negativa da opinião pública, mesmo em seu estado. Chegou a engolir a vaidade em apelos dramáticos aos colegas pedindo a absolvição ou, mesmo uma pena mais branda, que a cassação, como a suspensão de mandato. Ao sentir, que não poderia evitar o processo de cassação, optou pela renúncia, caminho mais seguro para evitar a perda dos direitos políticos por oito anos.
Mesmo abalado, garante que não encerrou a vida pública e promete voltar em 2002. Quer ser senador de novo para tentar se vingar daqueles que o condenaram.

O GOSTO PELA FRASE FEITA

"Quem não votar comigo não vai ter nada em meu governo"(1978)
"Em igualdade de condições, jamais deixo de dar a concessão (de rádio e TV) a alguém que apóia o governo " (1987)
"Os pontos de convergência sempre existem. O fracasso decorre da incapacidade de percebê-los" (1988)
"Só Tomé de Sousa não foi traído, porque não teve antecessor" (1991)
"Ninguém do meu grupo fará parte do staff da campanha de Fernando Henrique. Não tenho identidade com o candidato" (1994)
"Estou no maior amor com o presidente (FH). Só não fizemos sexo " (2000)
O material a seguir foi coletado em quatro jornais diários - O Globo, Jornal do Brasil, Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo - entre os meses de abril e maio de 2001
Fonte: http://www7.rio.rj.gov.br/cgm/comunicacao/publicacoes/fraudesecorrupcao/?02

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