I
Numa sessão em Angola,
O meu amigo Raimundo
Recebeu alma penada
Que num contar bem profundo
Narrou a fundo a chegada
De ACM no outro mundo.
II
Todo vestido de branco,
Pois já tinha trocado o terno,
ACM se postou
Na entrada do inferno
Para onde foi direto
A mando do Pai Eterno.
III
Carregando água de cheiro,
Viu-se um cordão de baianas
Esperando o grande líder
Numa comitiva bacana
Com mais de 100 deputados
E um cão comendo bananas.
IV
Apareceu Lúcifer:
Com um chicote na mão
E a cara muito amarrada,
Foi logo dizendo, então,
Que entre o babalaô,
Hoje tem reunião.
V
Duma grande mesa de ferro
Já foram se aproximando.
Na cabeceira da mesa,
ACM foi sentando;
Lúcifer deu um pinote
E começou protestando:
VI
Aqui, quem manda sou eu,
Eu sou o rei da folia!
Pra comer acarajé
Tem de pedir à minha tia.
Já falei pra Juraci
Que aqui não é a Bahia!
VII
ACM não falou
Durante a reunião,
Fingiu concordar com tudo
Que viu na resolução,
Disse: "Tou com Lúcifer,
Vou apertar sua mão".
VIII
Junto com seis senadores
Começou a passear,
A cumprimentar o povo
Que encontrou no lugar,
Nas esquinas do Inferno
Desandou a discursar.
IX
Lúcifer tava dormindo,
Acordou de supetão,
Pela brecha da janela
Viu muita aglomeração
E ao redor de ACM
Toda espécie de cão.
X
"O Inferno está sem graça";
queremos animação;
"Lúcifer é um moleza,
Não rouba nem tem ação"
Assim pediam nas faixas
Do diabo a deposição.
XI
Lúcifer inda propôs
Dois turnos de eleição,
ACM fincou pé
Que não aceitava, não,
Pois à vontade do povo
Pedia deposição.
XII
Lúcifer sai correndo,
Pulou um grande portão,
Encontrou do outro lado
Seu amigo Lampião.
Disse: "O homem tá com a gota,
Quer fazer revolução!"
XIII
A hora é de resistir –
Exclamou Chico Pinguelo.
Vamos botar pra feder –
Animou-se João Tranguelo.
ACM hoje vai ver
Como se come farelo!
XIV
Aí, começou uma guerra
(Cacete de cão com cão):
A turma de ACM
Deitou abaixo o portão,
Tinha até uma quitandeira
Com uma vassoura na mão.
XV
No exército de ACM
Se viam até generais;
Lúcifer tinha cangaceiros
Que não acabavam mais
Pra defender o portão,
Reduto de Satanás.
XVI
O grande Lucas da Feira
Se agarrou com Pinochet,
Arrancou o seu bigode
Com uma agulha de crochê,
Deu uma facada em Videla,
Botou Médici pra correr.
XVII
O Cão-Coxo de um pinote
Uma tora de pau pegou,
Zuniu a tora no vento
Chega a direção mudou,
Meteu em Garrastazu, a tora pegou no sul
Que o norte sentiu a dor.
XVIII
ACM quase morre
Na volta de Cão-Ligeiro,
Escapou manco de uma perna
Por dentro do marmeleiro,
Escoltado por uma diaba
Com um pau de bater tempero.
XIX
Corisco acertou um tiro
No general Golbery;
Castelo Branco, com medo,
Começou fazer xixi;
Lampião disse só falta
Do nosso lado Waldir.
XX
Apareceu Costa e Silva,
Sem saber por quem lutava;
Ernesto Geisel num canto
Com Figueiredo falava,
Enquanto o Cabeça Branca
Na capoeira escapava.
XXI
Se mandou em retirada,
Pegou o caminho do Céu,
Deu um esbregue em São Pedro,
Uma bicuda em São Miguel
E ainda pirraçou
O arcanjo Gabriel.
XXII
Na porta do paraíso
Quando ACM chegou,
Ofegante e agitado,
A santidade esnobou
E disse para São Pedro:
Não falo com assessor
XXIII
Mandaram chamar Jesus
(Quem chamou foi São Tomé),
ACM se exaltou,
Fez o maior rapapé:
Eu só falo é com o pai dele,
Daqui não arredo pé!
XXIV
Jesus Cristo então pediu
O parecer de Maria.
Ela pensou direitinho
Enquanto o Inferno ardia:
Se o Inferno não agüenta,
Se aqui ele não entra,
Só voltando pra Bahia.
LITERATURA DE CORDEL* - tipo de poesia popular, originalmente oral, e depois impressa em folhetos rústicos expostos para venda pendurados em cordas ou cordéis, o que deu origem ao nome. São escritos em forma rimada e alguns poemas são ilustrados com xilogravuras, o mesmo estilo de gravura usado nas capas. As estrofes mais comuns são as de dez, oito ou seis versos. Os autores, ou cordelistas, recitam esses versos de forma melodiosa e cadenciada, acompanhados de viola.
terça-feira, agosto 07, 2007
A CHEGADA DE ACM NO INFERNO - LITERATURA DE CORDEL*
às 1:32:00 PM Postado por Urubu_Rei
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