segunda-feira, dezembro 08, 2008

100 ANOS DE UMBANDA NO BRASIL

O texto abaixo foi lido em pronunciamento pelo Deputado Federal Vicentinho do PT (foto), em Sessão Solene pelos 100 Anos de Umbanda, que declarou: Estou aqui muito orgulhoso e emocionado, porque aprendi ao ler este texto. Viva os 100 anos da Umbanda no Brasil. Os Deputados Federais Carlos Santana e Luiz Couto (que também é um sacerdote católico) acharam o texto extremamente didático o que já valeu convites para Cumino ministrar palestras na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro e em Universidades da cidade.

O texto é do Irmão Alexandre Cumino e faz parte do livro UMBANDA: Trajetória de uma Religião, que será lançado em 2009 pela Editora Madras. Cumino é médium, sacerdote de Umbanda e aluno de Ciências da Religião na Faculdade Claretiano em SP.

CEM ANOS DE UMBANDA
Uma Religião Brasileira

Por Alexandre Cumino
Fundamentação da Nacionalidade:

NÃO BASTA DIZER:

Umbanda foi fundada dia 15 de novembro de 1908, em solo brasileiro. É preciso fundamentar esta afirmação, onde, historicamente apresenta-se os fatos, que comprovam data e local, sociologicamente demonstra-se um novo grupo religioso que se movimenta, antropologicamente temos a produção de uma nova cultura.
O que caracteriza a Umbanda é o encontro de diferentes fatores, criando algo único, um amálgama religioso.

Para uns Umbanda era kardecismo-africanizado, para outros africanismo-embranquecido, no entanto nem um nem outro, Umbanda é algo novo, que nasce neste solo brasileiro. Não é a religião de uma etnia (do negro, branco ou vermelho), mas o fruto do encontro delas produzindo um sentido, que já não se explica mais pela raça e sim pelo apelo que há na sua identificação com este povo brasileiro.

NASCIMENTO DA UMBANDA:

Falar do “Nascimento da Umbanda” é falar de um aspecto histórico, onde cabe relatar fatos que demonstrem este momento único no espaço e no tempo. Vamos buscar o local e a data, onde primeiro se manifestou a Umbanda. As primeiras tendas de Umbanda ganham destaque no Rio de Janeiro a partir da década de 20 e nos outros estados depois da década de 40 e 50.

Assim vamos nos localizando no tempo. Nina Rodrigues que publicou seus estudos sobre o negro africano e o negro brasileiro, depois de vasta e abrangente pesquisa de campo, até a data de 1900 não identificou a Umbanda, apenas algumas de suas ascendências.

A primeira Tenda de Umbanda é a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, fundada dia 15 de novembro de 1908, no Rio de Janeiro, por Zélio de Moraes e seu mentor espiritual o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Em sua primeira manifestação, na data citada, afirmou: “Venho trazer a Umbanda, uma religião que harmonizará as famílias e há de perdurar até o fim dos tempos...”

Quem nos conta esta história é o Decano e Sacerdote de Umbanda Ronaldo Linares de São Paulo, que conviveu com Zélio de Moraes, e segundo a filha carnal deste, Zilméia de Moraes Cunha, ele é a pessoa mais indicada para falar sobre seu Pai. Ronaldo Linares registrou os fatos narrados pelo “Pai da Umbanda”.

O fato é que Zélio vinha sofrendo de “ataques”, foi levado ao médico, foi levado ao padre, foi levado a uma benzedeira e finalmente, no dia 15 de novembro de 1908, foi levado à Federação Espírita de Niterói.

Ali, durante a sessão kardecista, os médiuns incorporaram espíritos de negros e índios, que eram convidados a se retirar, por preconceito dos líderes daquele grupo, naquela época. Neste momento Zélio incorpora um espírito que se identifica como Caboclo das Sete Encruzilhadas, afirmando que foi em outra vida Frei Gabriel de Malagrida.

ELE PERGUNTA:

“Porque expulsam estes humildes, não basta fazer diferença neste mundo e querem levá-la para o outro também?”. Esclarece ainda que vem trazer a Umbanda onde:“todos espíritos poderão se manifestar, com quem sabe mais iremos aprender e a quem sabe menos vamos ensinar, a ninguém vamos virar as costas”.

No dia seguinte, Zélio de Moraes dá inicio aos trabalhos da Religião de Umbanda, manifestando o Caboclo das Sete Encruzilhadas e o Preto-Velho Pai Antônio, marcando assim as duas linhas principais de trabalho dentro da religião, Caboclo e Preto-Velho, considerados os fundadores da Umbanda no Astral.

Zélio de Moraes nasceu dia 10 de abril de 1891 e desencarnou dia 3 de setembro de 1975, trabalhando mediunicamente de forma ininterrupta por 66 anos, prestando a caridade espiritual e muitas vezes material também, seguindo á risca o lema do Caboclo das Sete Encruzilhadas, “dar de graça o que de graça recebeu”.

A Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade esteve sob o comando das filhas de Zélio, Zélia e Zilméia, hoje encontra-se fisicamente no endereço da Cabana de Pai Antônio, em Cachoeiras de Macacu - Rio de Janeiro, sob o comando de Lygia de Moraes Cunha (filha de Zilméia), neta carnal de Zélio de Moraes.

EXPANSÃO INICIAL:

Durante sua vida, além da Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, Zélio de Moraes fundou mais sete tendas sob sua orientação direta. Ajudou direta e indiretamente na fundação de centenas de outras tendas de Umbanda, inclusive colaborando financeiramente com elas.

Preparou mais de mil médiuns e dirigentes espirituais, segundo suas próprias palavras, registradas por Lilia Ribeiro, para o Jornal Macaia.Destas tendas e dos médiuns que passavam por elas nasceram muitas outras, em uma expansão muito rápida, contando em poucas décadas centenas de tendas de Umbanda no Rio de Janeiro e se multiplicando por todos os outros estados do Brasil.

Outros médiuns mesmo sem ter tido contato com o trabalho de Zélio, nos locais mais longínquos, também passaram a manifestar espíritos que vinham trabalhar em nome da Umbanda. A Religião crescia a passos largos, sem uma codificação e nem uma instituição que centralizasse ou organiza-se a nova religião em face da sociedade. No futuro este perfil criaria um estigma e a necessidade de busca por uma identidade e unidade doutrinária.

Em agosto de 1939, por orientação do Caboclo das Sete Encruzilhadas, Zélio de Moraes, fundou o Jornal de Umbanda e a Federação de Umbanda do Brasil, que teve como primeira missão organizar e realizar o Primeiro Congresso Brasileiro do Espiritismo de Umbanda, em 1941. O objetivo deste congresso era dar a Umbanda uma unidade doutrinária que os adeptos pudessem seguir.

Também podemos citar neste momento inicial de expansão a Tenda Espírita Mirim, fundada em 13 de outubro de 1924, por Benjamin Figueiredo que trabalhava com o Caboclo Mirim. Benjamim vinha de uma família espírita kardecista atuante, sua avó teria trazido o espiritismo da Europa.

Benjamim foi uma das pessoas que mais lutou pela expansão ordenada da Umbanda, fundou o Primado de Umbanda em 1952 congregando e preparando muitas outras tendas de Umbanda. Apoiou os três grandes Congressos Nacionais de Umbanda no Rio de Janeiro e fundou a Escola Superior Iniciática de Umbanda do Brasil.

Os primeiros terreiros de Umbanda fora do Rio de Janeiro começam a surgir entre a década de 30 e 40 e em 1932, Laudelino de Souza Gomes, Oficial da Marinha Mercante, fundava em Porto Alegre, com Estatuto Social e registro em Cartório, a Congregação dos Franciscanos de Umbanda.

Já em São Paulo, segundo pesquisa do sociólogo Lísias Nogueira Negrão (USP), o primeiro Terreiro de Umbanda foi registrado em Cartório no ano de 1929. A partir da década de quarenta, com mais expressão na década de 50, a Umbanda passou a se expandir vertiginosamente, ganhando corpo também nos outros estados.

Surgiram literaturas de Umbanda, onde os próprios adeptos se propuseram a explicar a religião e sua liturgia, bem como seu ritual, doutrina, símbolos e mitos. Assim estabeleceu-se em solo brasileiro uma religião nacional totalmente fundamentada na cultura deste povo, que fala língua simples e que prega humildade, simplicidade e o “dar de graça o que de graça recebestes”, como regra de ouro.

Assim definida pelo seu idealizador o Caboclo das Sete Encruzilhadas “Umbanda é a manifestação do Espírito para a Caridade”.
Fonte: Enviado por e-mail pelo amigo umbandista R7E

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