quinta-feira, março 26, 2009

Empurrado no Leblon dá manchete; incinerado em Caxias não dá nem nota

Os jornais trouxeram páginas e mais páginas sobre a história de um casal que foi empurrado depois de um assalto na encosta da Avenida Niemeyer, no Leblon. Ele é advogado e empresário, ela é publicitária.

Os bandidos optaram por uma crueldade final. Empurraram os dois para a morte no precipício. Por sorte, as vítimas saíram do episódio vivos e, pelo menos fisicamente, pouco feridos. Notícia? Certamente. Sites deram manchetes, telejornais exibiram. Delegados, especialistas e ólogos com suas frases publicadas sobre o assunto.

Na sexta-feira anterior ao assalto no Leblon, seis homens foram mortos numa chacina em Imbariê, no município de Caxias, Baixada Fluminense. Quatro deles foram incinerados. Uma das vítimas só foi reconhecida por um pedaço de roupa. Notícia? Não.

À exceção de um jornal popular, ninguém publicou nada sobre o crime. Procure no Google. A última chacina em Caxias que aparece no buscador é do ano passado. Agora procure pelas palavras “casal” “empurrado” “Leblon”. Em menos de um dia já constava 24 resultados, um deles de um jornal paraibano.

Por que motivo essa entidade que é chamada de “mídia”, mas que é composta por gente, jornalistas, como eu, acha que seis mortos em Caxias valem menos do que dois empurrados no Leblon? Enquanto a capital do estado teve uma redução de 14,7% nos homicídios de janeiro a agosto do ano passado, em Caxias matou-se 20% a mais.

De acordo com o Instituto Segurança Pública, 393 pessoas morreram em Caxias. No mesmo período, 322 soldados americanos e aliados foram mortos na guerra do Iraque. Quantos mortos de Caxias apareceram nos jornais?

Empurrar pessoas num penhasco para a morte é bárbaro e a imprensa tem o dever de publicar. O problema é que, quando se empurra no Leblon, o caso para nas manchetes. Em Caxias, quando se incendeia pessoas, não rende nem notinha no pé de página.
Fonte: Desconheço a autoria do texto. Enviado por e-mail pela amiga DENISE GUIMARÃES

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