terça-feira, março 03, 2009

O parto do passado é o do futuro

Por Andrea Wellbaum

Esta é minha última semana de trabalho antes de entrar de férias e licença-maternidade, então achei que deveria deixar aqui meu post de despedida, já que devo voltar ao batente apenas no ano que vem.Aqui na Grã-Bretanha, temos uma licença remunerada (porém não com o salário integral) durante seis meses e outros seis meses de licença não-remunerada. Para as mães brasileiras, pode parecer uma maravilha, mas as licenças em outros países da Europa costumam ser ainda mais generosas! Quando cheguei em Londres, há 4 anos e meio, tinha jurado que nunca teria meu bebê neste país.Tinha ouvido várias experiências extremamente traumáticas, de midwifes (as responsáveis por fazer seu parto quando você não tem de ter uma cesárea) grossas e desatenciosas, de procedimentos errados adotados em situações de emergência, de mães machucadas depois do uso de fórceps... a lista era interminável.

E uma das práticas mais inimagináveis para a maioria das brasileiras era o parto sem nenhum tipo de anestesia. Quando a possibilidade de ter um bebê ainda estava distante, ficava me perguntando por quê eu deveria passar por este sofrimento.

Porém, os anos foram passando, me informei mais e mais sobre o assunto e há pelo menos dois anos a idéia de parir nesta terra já não era algo tão assustador. Em relação à anestesia peridural para aliviar a dor, mudei de lado: quero fazer o máximo para não ter de tomá-la.

Sei que posso me arrepender amargamente do que vou escrever aqui, mas pelo menos neste momento, a menos de um mês do parto, estou bem feliz de dar à luz na Grã-Bretanha.

Se tudo correr conforme o planejado (o que já sei que poucas vezes acontece), terei um parto natural, sem anestesia, dentro da água. Sei que poderia ter um parto destes no Brasil, mas provavelmente teria de pagar caro para ter um serviço que aqui terei pelo sistema público.

Aliás, outra tendência que vem aumentando por aqui são os partos em casa. Muitos ainda são feitos por midwifes particulares, mas todos os hospitais públicos também disponibilizam o serviço e tenho ouvido algumas experiências fantásticas pelo sistema público.

O que se percebe aqui é uma volta ao passado, uma valorização da forma mais antiga de dar à luz. Menos intervenções médicas e mais respeito aos instintos naturais da mulher durante o trabalho de parto.

Não é preciso ser nenhum especialista para saber que quando uma mulher está deitada em uma cama o bebê não conta com a ajuda da gravidade para sair do útero e pode demorar mais em sua jornada para o mundo. Por isso, existe um incentivo cada vez maior ao partos verticais, com a mulher de pé ou de cócoras.

Também não é preciso parar para pensar muito para saber que ficar de pernas abertas em frente a um monte de pessoas desconhecidas sob uma poderosa luz fluorescente de hospital ouvindo a palavra: "Empurra! Empurra!", como se fosse um grito de guerra de estádio de futebol não é a experiência mais prazerosa do mundo e tem tudo para potencializar uma dor que talvez seria menos intensa em um lugar calmo, menos iluminado, com uma música tranquila de fundo e o menor número de pessoas olhando para você.

Estes lugares são chamados de "birthing centres", locais que contam apenas com midwifes (não existem obstetras nem anestesistas), que tentam fazer a grávida ter uma experiência parecida com a que teria se estivesse em sua casa.

Não sei como será minha experiência e confesso que estou cada vez mais ansiosa para a hora H. Continuo achando que o sistema de saúde daqui tem lá suas falhas e que como brasileira sinto falta de um acompanhamento pré-natal mais pessoal.

Mas no fim das contas, até agora tive todo o tratamento necessário e se tudo culminar com uma bela experiência de parto, que resulte em um bebê e uma mãe saudáveis, melhor ainda!
Veja mais: http://www.bbc.co.uk/blogs/portuguese/london/

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