terça-feira, junho 23, 2009

Religião & Literatura - Espiritualidade Metropolitana

Por Alexandre Cumino

Após três dias de retiro no mato, no meio do nada, em Minas Ge­rais,cercado de cachoeiras e pe­dreiras de quartzita, voltei às minhas re­flexões sobre o mundo de dentro e o mundo de fora.

Foram tantas informações que “re­cebi” neste pouco tempo que tenho difi­culdade de colocar tudo no papel,no entanto, uma das mais marcantes é esta questão de “dar um sentido à vida” dentro de um “mundo sem sentido”. Estar ajustado neste mundo ou ter alcançado algo como posição e poder temporal não significa estar bem ou ter encontrado uma luz para nossas vidas.

Como nos ajustarmos em um mundo desajustado? Se nos ajustamos no desajustado, desajustados estamos nós! Ou o desajustado é um ajustado que finge estar ajustado e assim entra na normalidade do mundo em que todos vestem uma mascara social ou é só mais um doente em um “mundo doente”, cren­do na sanidade entre os loucos.

Mesmo quem tenha boa condição financeira e seja feliz, pode até parecer ajustado, no entanto, se for sincero e tiver uma boa visão da sociedade em que vive saberá que desfruta de algo que é para poucos.Não proponho uma re­volução ma­terial, mas a bus­ca por uma clareza na espiritualidade metropo­litana.

Vivemos no mesmo mundo das monarquias com sua corte sustentada pelo povo, onde uma burguesia ainda luta para crer, orgulhosamente, que é melhor do que os escravos e a plebe. Somos hoje es­cravos de um sistema, oprimidos por um modelo capitalista, onde o chicote bate sem dó na criança, no velho e nas mães que não con­seguem o mínimo para uma vida honesta e digna.

Por este motivo, mais uma vez, agra­­decemos a presença do Preto Velho e do Caboclo em nossas vidas, o pri­meiro por ajudar na libertação de nos­sos vícios e amarras do mundo da apa­rência e o segundo por nos despertar a visão de “um outro mundo possível”, em sintonia com a natureza.

Buscamos na espiritualidade em geral e na Umbanda em particular um sentido para a vida.Para tal precisamos nos libertar des­te ciclo vicioso do que é certo ou erra­do, de como de­vo me com­portar, falar ou vestir.

Deixar de ser aquele que corres­pon­de as expec­ta­tivas do “outro” e da sociedade para sermos nós mesmos.A questão é tão profunda que mui­tos vivem uma espiritualidade sem sen­tido e sem uma filosofia de vida. Aderem a esta ou aquela Religião como quem passa a fazer parte de um clube social,em busca de mais um rótulo, diploma ou cargo para seu currículo.

Agora são espiritualistas por fre­qüen­tar certo lugar e andam com um crachá de espiritualidade pendurado, para se sentirem superiores ou dizer que fazem um favor a sociedade.

Trocam os valores internos por prá­ticas externas, se mostram evoluídos pelas roupas que vestem, pela alimen­tação vegetariana, pela erudição e até usam o não fumar e não beber para enfatizar seus valores ou para diminuir o outro.

Se espiritualidade fosse isso, seria muito fácil alcançar a iluminação. Por isso cremos nos Pretos Velhos que fumam e falam errado, no caboclo “bugre”, na sabedoria “ignorante” do baiano, no boiadeiro que “ralha” seus valores, no marinheiro embriagado da ener­gia do mar ou do cigano desmo­ra­lizado na cidade e dignificado no astral.

Com todos eles aprendemos que: o que vale na Espiritualidade e na Um­banda é o que não se vê.Seu valor es­tá além da aparência, “mais vale o que sai pela boca do que o que entra”.

Existe um chamado metropolitano, existe uma Umbanda Metropolitana, que nos assiste na problemática deste mun­do, uma Umbanda que procura nos ajudar a entender o que fizemos de nós mesmos e de nossa sociedade.

Uma Umbanda que nos liberta dos apegos e das aparências para encontrar uma sim­plicidade de viver.E este texto é apenas um convite a pensarmos estas questões dentro e fora da Umbanda.

EM TEMPO:

Não se confunda a colocação sobre o fumo como apologia ao mesmo, todos sabemos o quanto é prejudicial a saúde, mas ainda assim “fumar ou não fumar” é uma opção pela saúde, a espiritua­lidade deve estar acima desta e outras escolhas como alimentação e exercícios físicos. Que o umbandista aprenda a cuidar do corpo/mente/espírito por opção e não por imposição.

São Paulo, 14 de Junho de 2009.

Fonte: Jornal de Umbanda Sagrada. Este texto pode e deve ser repassado a outras pessoas, desde que se mantenha a autoria e a fonte de origem do mesmo.
Contatos:alexandrecumino@uol.com.br - Email enviado pelo autor da matéria.

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