Por Cristiane Segatto*
Pesquisadores suspeitam que o excesso de peso pode influenciar no agravamento da doença
No momento em que escrevo esta coluna, o Brasil tem mais de 700 casos confirmados de infecção pelo vírus da gripe A (H1N1). Apenas uma pessoa morreu. O índice de letalidade da doença no mundo ainda é baixo (0,5%) e semelhante ao da gripe comum. A maioria dos brasileiros infectados está em recuperação ou já recebeu alta. Não há razão para pânico. Mas é preciso estar preparado para conviver com a presença do vírus em casa, no trabalho, nas ruas.
Mais brasileiros estão pegando gripe suína sem ter viajado para o Exterior. Há três semanas, apenas 6% dos casos haviam sido contraídos aqui mesmo no Brasil. Hoje o ministro da saúde José Gomes Temporão revelou que esse índice subiu para 30%.
Nas próximas semanas, é provável que ele se espalhe rapidamente e atinja milhares de pessoas no Brasil. Talvez eu seja uma delas. Talvez você. Talvez alguém de nossas famílias. Hoje, todos nós queremos saber duas coisas: o que fazer para não morrer da doença? Como passar pela gripe suína como passamos por incontáveis gripes comuns desde que nos conhecemos por gente?
O caminhoneiro Vanderlei Vial, a primeira vítima brasileira, era jovem. Tinha apenas 29 anos. Podia ser considerada uma pessoa sadia, segundo a direção do hospital onde ele ficou internado, no Rio Grande do Sul. Essa morte tem sido explicada pela demora na busca de atendimento. O caminhoneiro contraiu o vírus na Argentina, para onde viajou a trabalho. Os sintomas da doença surgiram no dia 15, quando ele ainda estava em Buenos Aires.
Segundo as autoridades gaúchas, Vial procurou atendimento médico apenas cinco dias depois, quando já estava em casa. No dia 23, foi transferido para um hospital em Passo Fundo. Cinco dias depois, morreu em decorrência de uma pneumonia.
Buscar atendimento rápido é fundamental. Não perca tempo caso note os seguintes sintomas:
· Febre alta
· Dor de cabeça
· Irritação nos olhos e narinas
· Náuseas
· Vômitos
· Diarréia
· Dor muscular e nas articulações
Além da demora na busca de socorro, que outras condições aumentam o risco de morte? A análise dos óbitos em outros países permite determinar alguns grupos de risco: asmáticos, diabéticos, grávidas e pessoas com deficiências no sistema imune.
Nos últimos dias, no entanto, os técnicos do Centro de Controle de Doenças (CDC), em Atlanta, nos Estados Unidos, passaram a desconfiar de uma outra condição que parece aumentar o risco de complicações: a obesidade.
“Estamos surpresos com a frequência de obesidade entre os casos severos que estamos acompanhando”, disse Anne Schuchat, uma das epidemiologistas do CDC, segundo reportagem do jornal The Washington Post.
Há mais de um milhão de casos confirmados de gripe suína nos Estados Unidos. Cerca de 3 mil pessoas foram hospitalizadas. Quase 130 morreram. A idade média das vítimas fatais é de 37 anos.
Dos mortos, cerca de 75% tinham pelo menos uma das seguintes condições: gravidez, asma, diabetes, deficiências do sistema imune ou obesidade.
Nem todo obeso corre risco mais elevado de complicações depois de pegar a gripe suína. Mas muitos obesos - principalmente os mórbidos -- têm problemas respiratórios crônicos. É aí que mora o perigo.
O professor Marcio Mancini, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), me explicou quais são os problemas respiratórios mais comuns em obesos.
“A maioria dos obesos mórbidos tem apnéia do sono, caracterizada por engasgos e sufocamento noturno. Outros pacientes podem ter a chamada síndrome da hipoventilação e precisam de oxigênio extra mesmo durante o dia. Recentemente descobriu-se também que a asma é mais prevalente entre obesos e que o tecido adiposo produz um fator que causa redução do calibre dos brônquios”, diz Mancini.
Mesmo sem ter uma doença estabelecida, a ventilação do pulmão dos obesos costuma ser prejudicada. Ou seja: a quantidade de ar inspirada é menor do que a inspirada por indivíduos com peso normal.
Por que isso ocorre? O aumento da gordura intrabdominal pressiona o diafragma, o músculo que separa o abdome do tórax. Consequentemente, as bases pulmonares também são pressionadas. O resultado é a falta de ar. “Isso compromete a eficiência da tosse e poderia, em tese, explicar o aumento das complicações depois da infecção pelo vírus da gripe suína”, afirma Mancini. A eficiência da tosse é a capacidade de limpar as vias aéreas. Ou seja: de botar para fora as secreções acumuladas.
A epidemiologista Anne Schuchat, do CDC, diz que os cientistas estão estudando a possibilidade de incluir os obesos entre as pessoas que terão prioridade para receber a vacina contra a gripe suína quando ela estiver disponível. Cinco empresas americanas estão desenvolvendo vacinas contra o vírus H1N1. Se tudo correr bem com os testes de segurança e eficácia, apenas 60 milhões de doses estarão disponíveis em setembro.
No Brasil, o Instituto Butantan pretende inaugurar em outubro a única fábrica de vacinas de gripe da América Latina. Segundo o ministro da saúde José Gomes Temporão, as doses não estarão disponíveis antes de 2010. Até lá haverá muita polêmica em torno da difícil decisão de escolher quem deve ser vacinado primeiro. Os obesos devem estar entre eles?Fonte: CRISTIANE SEGATTO* Repórter especial, faz parte da equipe de ÉPOCA desde o lançamento da revista, em 1998. Escreve sobre medicina há 14 anos e ganhou mais de 10 prêmios nacionais de jornalismo. Contato: cristianes@edglobo.com.br
Veja mais: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI80528-15230,00-GRIPE%20SUINA%20O%20QUE%20OS%20OBESOS%20PRECISAM%20SABER.html
domingo, julho 05, 2009
Medicina & Saúde Pública - Gripe suína: o que os obesos precisam saber
às
9:08:00 AM
Postado por
Urubu_Rei
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