sábado, março 21, 2009

O que iremos comemorar daqui a 100 anos?

Por Marcelo e Mônica Berezutchi

Caros irmãos, esse ano co­mo todos sabem é o ano que comemoramos o Centenário da Um­banda, e esse Centenário está ligado diretamente a história do Caboclo das Sete Encruzilhadas, é lógico que antes dessa data havia incorporação dos Guias e Orixás, mas não havia docu­mentação e registro desses fatos, realmente é uma história muito bonita e verdadeira que todos conhecem e não vou contá-la novamente.

A historia que não é contada é o que fizemos depois disso o que fazemos hoje para manter a semente plantada pelo nosso querido Caboclo das Sete Encruzilhadas.

Depois do advento do Caboclo mui­ta coisa aconteceu, timidamente a Um­banda começou a traçar o seu caminho, no inicio eram poucos os corajosos, pois o preconceito era real e os dirigentes podiam ser presos a qualquer momento, a espiritualidade sabe o que faz e a semente foi plantada em solo fértil já que a família do Sr.

Zélio era influente no Rio de Janeiro a Umbanda seguiu calma e tranqüila naquele solo, a arvore sagrada criou raízes e seus frutos se es­palharam pelo Brasil, no início timida­mente, mas depois de forma mais ade­quada a realidade do momento.

Nos idos dos anos 70 a Umbanda começou a pegar força, lembro quando era peque­no que vários times de futebol tinham um Pai de Santo a protegê-los, estáva­mos indo bem, vários autores se arrisca­vam e lançavam livros de ensinamentos Umbandistas que representavam aquilo que conheciam, a parte cultural estava em alta, pois vários autores referen­ciavam os Orixás em suas melodias.

No início dos anos 80, na minha opinião aconteceu a nossa primeira provação a qual não passamos, não sei precisamente qual foi a causa, se foi a soberbia, se foi a vai­dade, se estávamos no caminho errado, mas de qualquer forma, nosso castigo veio a cavalo.

Fomos massacrados em todos sentidos, não havia leis que nos protegesse e caímos, caímos por que não nos unimos, nos não sensibilizamos as pes­soas da nossa situação, não fo­mos para as ruas lutar pelo nos­so direito de exercermos nossa religiosidade, nós preferimos nos esconder, retiramos as pla­cas, andamos cabisbaixos e es­condemos nossa religiosidade.

Os poucos que insistiram eram corajosos alguns foram presos e com certeza todos foram per­seguidos religiosamente, foi uma época difícil, não tínhamos a comunicação que temos hoje, não havia Internet, telefone celular, câmera digital, muitos terreiros foram fechados e sa­cer­dotes agredidos física e mo­ral­mente e nós nem ficamos sabendo.

Como tudo tem um lado bom, aqueles que insistiram e permaneceram eram os que levariam a religião à frente, pois os que estavam brincando de Um­banda foram os primeiros a desistir e correr.

No final dos anos 80, mais precisa­mente em 05/10/1988 foi promulgada a nova Constituição brasileira, que reproduzo abaixo somente à parte a que nos interessa.

TÍTULO II

Dos Direitos e Garantias Fundamentais

CAPÍTULO I

DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVO

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos es­trangeiros residentes no País a invio­labilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à pro­priedade, nos termos seguintes:

VI - é inviolável a liberdade de cons­ciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

É lógico que o parágrafo VI, não foi feito exclusivamente para nós, pois se refere a toda e qualquer crença e culto religioso, mas em 1988 a crença que era mais massacrada na mídia era a nossa, pois nos que éramos “a coisa do demônio”.

Bom foi ótimo, mas somente conse­guimos valer a lei na metade dos anos 90 com ajuda dos advogados, pois não sei vocês, mas eu, durante muito tempo me senti culpado até que se prove ao contrario ao invés de inocente até que se prove ao contrário.

O que não podemos esquecer é que a Constituição é soberana, mas além dela temos que seguir as leis estaduais e municipais.

Não sei vocês, eu não sou advo­gado, mas nesse momento entrei em parafuso, a Constituição fala que meu direito está reservado, conforme trans­crito acima, e existem leis municipais que definem uma área mínima para templo religioso de 250m², eu acho que essa lei é anti-Constitucional, já que limita minha religiosidade, pois se não tenho um local com 250m² ou mais, eu sou obrigado a não praticar a minha, pois se a praticar estou infringindo uma lei, ao mesmo tempo a constituição ga­rante o meu direito.

Isso tudo foi um pouco do que passamos nos últimos 100 anos, é claro que todos vocês tem um pedaço da historia e o que escrevi aqui talvez seja 10% de tudo o que ocorreu nesse período, o fato é que hoje estamos escrevendo a nossa historia que será contada daqui a 100 anos quando a Umbanda estiver fazendo 200 anos de historia.

Não estarei mais nesse corpo car­nal e nem vocês, podemos até fazer parte dos próximos 100 anos de uma maneira ou de outra, encarnados ou não.

O fato é que na comemoração dos 200 anos eu gostaria de ler que final­mente conseguimos nos unir para dar força a nossa religião, que finamente possamos realizar nossos cultos nos pontos de força sem ter que ficar explicando nada a ninguém, que um­ban­distas pratiquem a Umbanda como uma religião de culto a natureza, sem poluir as cachoeiras, as matas e o mar, que dirigentes não demandem mais contra dirigentes, que finalmente le­van­tamos a bandeira da Fé, Amor e Caridade. Será que iremos precisar esperar mais 100 anos para que isso aconteça?

Pense nisso irmão, 100 anos pa­rece muito tempo, mas para a espiri­tualidade é um piscar de olhos.
Axé a todos.
Fonte: Matéria enviada por e-mail pelo amigo R7E

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