sábado, junho 06, 2009

Medicina & Saúde - A internet contra a insônia

Estudos mostram que sites que oferecem serviços contra o problema podem ajudar as pessoas a dormir melhor.

Por Cristiane Segatto*

Sou uma das mais céticas espectadoras das ofertas divulgadas na internet para aplacar os mais diversos problemas de saúde. Há solução para quase tudo transbordando na web, na blogosfera, nas caixas de email. De regimes milagrosos a métodos bizarros de alongamento de pênis, não existe limite para a criatividade dos negociantes. Tento me esforçar todos os dias para que minha desconfiança não se transforme em preconceito.

Quando o assunto é saúde, a internet está cheia de lixo. Mas quem acha que SÓ há lixo na web está condenada a mais uma forma de exclusão digital. A internet vai mudar o jeito como cuidamos da nossa saúde da mesma forma como transformou o modo de cultivar relações sociais, adquirir conhecimento e se divertir.

Foi com o espírito desarmado que resolvi analisar novos serviços online que prometem tratar a insônia. Cerca de 40% dos brasileiros sofrem desse problema, nos mais diferentes graus. É muita gente. Um dia ruim no trabalho e a preocupação com prazos tiram o sono de qualquer um. Quando o problema se torna crônico, no entanto, é preciso procurar ajuda.

E por que essa ajuda não pode ser virtual? Um dos serviços interessantes é o Conquering Insomnia, que custa cerca de US$ 35. Ele reproduz o tratamento desenvolvido na Universidade Harvard nos últimos 20 anos pelo especialista Gregg D. Jacobs. É baseado na terapia cognitiva comportamental aplicada por psicólogos que atendem pessoas com insônia. O que uma pessoa pensa sobre determinada situação (a parte cognitiva) influencia seus atos (a parte comportamental). O trabalho dos psicólogos é ajudá-la a mudar esses pensamentos para que consiga viver melhor.

Esse tipo de terapia - feita pessoalmente - é amplamente usada contra a insônia há muitos anos. A novidade agora é o tratamento virtual, sem a presença de um terapeuta. O paciente aprende também técnicas de relaxamento e recebe dicas sobre como se preparar para o sono. Um serviço semelhante está disponível no site myselfhelp.com por US$ 20.

A última edição da revista científica Sleep, uma das mais importantes na área de estudos sobre sono, traz uma avaliação dos serviços online oferecidos nos Estados Unidos.
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* »Leia as colunas anteriores de Cristiane Segatto

Os pesquisadores analisaram os resultados obtidos por 118 adultos que fizeram um tratamento online contra a insônia durante cinco semanas. Concluíram que muitos se beneficiam. “Deve haver alguma coisa especial que um programa de internet garante ao paciente. Por exemplo, a sensação de estar no comando da situação”, disse a autora do estudo, Norah Vincent, à revista Time.

Norah pertence ao departamento de psicologia da Universidade de Manitoba, no Canadá. “As pessoas gostam de ter autonomia quando precisam resolver problemas. Acredito que isso as motive ainda mais”, afirma.

No estudo de Norah, 35% dos que fizeram a terapia online disseram ter melhorado muito. O índice foi de 50% no grupo que fez a terapia no consultório. A mensagem é clara: poder encontrar o psicólogo ou o médico pessoalmente é a melhor estratégia. Nesses tempos de consultas de cinco minutos, em que muitos sequer conseguem ser ouvidos, a internet pode ser útil.

Não conheço nenhum serviço desse tipo em português, desenvolvido por profissionais brasileiros. Acho que não vai demorar muito para que eles comecem a surgir.

Enquanto isso, posso indicar algumas recomendações simples que ajudam a conquistar uma boa noite de sono:

· Limite o consumo de cafeína. Não esqueça que ela está presente também nos chás, nos chocolates e na Coca-cola

· Pratique atividade física, mas evite fazer isso perto da hora de dormir

· Tome um copo de leite morno antes de ir para cama. Ele relaxa os músculos e induz o sono

· Evite colchões muito macios ou muito duros

Se nada disso funcionar, procure ajuda especializada. Real ou virtual.

Fonte: Cristiane Segatto* cristianes@edglobo.com.br - Repórter especial, faz parte da equipe de ÉPOCA desde o lançamento da revista, em 1998. Escreve sobre medicina há 14 anos e ganhou mais de 10 prêmios nacionais de jornalismo.
Veja mais: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI76151-15230,00-A%20INTERNET%20CONTRA%20A%20INSONIA.html

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