quinta-feira, julho 02, 2009

Medicina & Saúde Pública - Controvérsia: Coca-Cola Zero faz mal?

Circula na internet um e-mail intitulado “Coca-Cola Zero proibida nos Estados Unidos”, que trata dos riscos de um determinado ingrediente do refrigerante, o ciclamato de sódio.

Para especialistas, o assunto é controverso. Para a empresa, o produto está adequado à legislação. Estratégia de marketing da concorrência ou não, as informações apresentadas detalhadamente pelo suposto autor, um médico argentino chamado Edgardo Derman, tem semeado dúvidas ao maior interessado pelo líquido gasoso: o consumidor.

O texto é considerado por muitos, inclusive pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) do Brasil, um spam – termo atribuído a mensagens não solicitadas, em geral indesejadas, e que são enviadas para um grande número de pessoas ao mesmo tempo. A polêmica tem origem no questionamento feito pelo autor da mensagem sobre a proibição da Coca-Cola Zero nos Estados Unidos, por conter um ingrediente nocivo à saúde.

De fato, segundo a Food and Drug Administration (FDA), órgão de controle de drogas e alimentos nos EUA, os ciclamatos foram banidos há 40 anos da lista de aditivos alimentares permitidos.

A decisão foi imposta após a verificação de resultados em estudos experimentais com ratos, que apontavam a mistura do ciclamato e a sacarina (muito comum em adoçantes de mesa comercializados no Brasil) como indutores de câncer.

Em 1982, O Comitê de Assessoramento sobre Câncer do FDA revisou as evidências científicas e concluiu que o ciclamato não era potencialmente carcinogênico. Isso foi reafirmado anos depois pela Academia Nacional de Ciência dos Estados Unidos com a conclusão de que “o peso das evidências experimentais e epidemiológicas não indicavam que o ciclamato, por si, só fosse carcinogênico”.

Novos estudos foram realizados na década de 90, desta vez com macacos, os quais reafirmaram a improvável origem de câncer a partir da substância. No entanto, especialistas do Instituto Nacional de Saúde Ambiental e Ciência, também dos Estados Unidos, rejeitaram as conclusões desta nova pesquisa.

“A incidência de câncer em macacos é considerável e deve ser encarada como um sério risco rumo à possibilidade cancerígena do ciclamato”, dizem os especialistas James Huff e Lorenzo Tomatis, em artigo publicado no periódico Toxicological Sciences em 2000.

A principal referência para o uso de aditivos em alimentos no Brasil e demais países que utilizam o ingrediente, segundo a Anvisa, foi estabelecida pelo Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives (JECFA), comitê científico vinculado à Organização para Alimentos e Agricultura das Nações Unidas e à Organização Mundial da Saúde (OMS).

Em 1997, o JECFA concluiu que o ciclamato pode ser utilizado de forma segura, dentro de um limite máximo de 11mg por quilo de peso corpóreo, ao dia. Significa dizer que uma pessoa de 50 kg pode ingerir 550 mg de ciclamato diariamente, por toda a vida, sem riscos significativos à saúde.

Além disso, o ciclamato consta na lista Harmonizada de Aditivos Mercosul, segundo a Anvisa. Esta lista é utilizada como referência pelo Brasil e demais países membros do bloco econômico para aprovação de uso de aditivos.

Somente aditivos constantes nessa lista podem ser autorizados para uso em alimentos no Brasil. Enrique Pérez, representante da Organização Pan-Americana de Saúde, vinculada à OMS, admite a controvérsia do assunto e afirma que atualmente há uma petição junto à JEFCA para reavaliar o nível aceitável de ingestão diária do ciclamato.

As referências internacionais, declara a Anvisa, garantem a segurança de uso do ciclamato de sódio em alimentos, desde que respeitados o limite diário de 40mg de ciclamato de sódio para cada 100g/ml de alimento. Atualmente, cada 100ml de Coca-Cola Zero, por exemplo, tem 24 mg de ciclamato de sódio.

Tomado como base de cálculo o limite imposto pelo JECFA (11mg), uma pessoa de 50 kg poderia beber 2,291 litros diariamente, sem comprometer sua saúde. Quanto maior o peso, maior é o limite permitido para ingestão da Coca-Cola Zero.

CICLAMATO EM PAÍSES POBRES

Outra questão levantada na mensagem, que circula eletronicamente, refere-se ao motivo pelo qual persiste a autorização do componente em alguns países. Para o autor, a diferença de preço entre o ciclamato e o aspartame, adoçante menos prejudicial e substitutivo do ciclamato em países onde este é proibido, seria um dos principais motivos. Cogita-se que a razão proporcional de preços seria de U$ 10 por quilo do ciclamato contra U$ 152 o quilo do aspartame.

Na mensagem, o autor ainda afirma que a Coca-Cola Zero vendida na América do Norte e em alguns outros países não contêm o aditivo. “Isto só acontece nos países pobres ou subdesenvolvidos como os da Europa Oriental e América Latina”, pondera.

Apesar de reconhecer que pressões econômicas possam dificultar a aprovação de normas que contrariem os interesses de muitas indústrias, a especialista em ciências da saúde, Lívia Pineli, acredita que o real motivo de o Brasil aprovar o uso do ciclamato é a falta de evidências científicas que o condenem nas doses normais de consumo humano.

“O ciclamato é mais barato do que o aspartame, mas não acredito que seja isso que mantenha a autorização do aditivo para uso no Brasil. Países em desenvolvimento, como Cingapura e Malásia, também proíbem o uso do aditivo. Há países desenvolvidos que aprovam o uso deste adoçante”, afirma Pineli.

De acordo com a assessoria da Coca-Cola Company Brasil, que não se manifestou sobre a diferença de preço das substâncias, o ciclamato é um edulcorante utilizado não apenas em bebidas, como também em produtos dietéticos, farmacêuticos, adoçantes de mesa, bolos, laticínios, caramelos e doces, entre muitos outros.

“Todos os produtos da Coca-Cola, em qualquer lugar do mundo, só usam ingredientes seguros para o consumo e aprovados pela legislação local”, esclarece a assessoria de imprensa. Segundo a empresa, o motivo da autorização do uso em países da Europa, Canadá, Brasil, América Latina é a segurança para o consumo humano, além das suas propriedades não-calóricas.

ALERTA RECORRENTE

Na semana passada, a Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, a Pro Teste, divulgou resultados de uma pesquisa sobre a composição de refrigerantes brasileiros. Entre 24 refrigerantes analisados, verificou-se que sete contêm substâncias que podem causar câncer. Entre os produtos relacionados e que poderiam favorecer tumores estão a Sukita, Sukita Zero, Fanta Light, Dolly Guaraná, Dolly Guaraná Diet, Fanta Laranja e Sprite Zero.

Há alguns anos, alguns destes produtos já eram alvo de “boatos” sobre a indução ao câncer e outros problemas na saúde humana. Apesar disso, as empresas responsáveis garantem que os refrigerantes estão sob os padrões de qualidade e em total atendimento à legislação brasileira.

A Pro Teste é conhecida das empresas de refrigerantes por suas pesquisas. Em 2003, com base em um estudo semelhante sobre as propriedades dos líquidos gasosos, a associação conseguiu retirar do mercado o refrigerante Tina Pet Cola light, que à época não apresentava no rótulo a expressão “contém fenilalanina”, substância que coloca em risco a saúde de pessoas que sofrem de fenilcetonúria, doença genética, transmitida de pais para filhos, que ocasiona distúrbios no metabolismo. Naquela ano, a Pro Teste realizou uma pesquisa com 13 marcas de refrigerantes à base de cola e o principal problema encontrado foi o excesso de cafeína e a falta de informação adequada nas embalagens.

Fonte: Jornal O Serrano - Matéria publicada no dia 18.05.2009
Enviado por email pela amiga PRISCILA POUBEL

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